O Professor e Doutor Leonardo Manzan informa que a responsabilidade tributária dos administradores é um dos temas mais debatidos no direito tributário contemporâneo, especialmente diante do aumento das autuações fiscais e da complexidade do ambiente empresarial brasileiro. A questão envolve o equilíbrio entre o dever de gestão e a proteção contra responsabilizações indevidas. A interpretação equivocada das normas pode levar à inclusão de diretores e sócios em execuções fiscais, mesmo sem a comprovação de dolo ou má-fé, o que reforça a necessidade de critérios claros e de observância estrita à legislação.
Segundo o Código Tributário Nacional (CTN), a responsabilidade pessoal do administrador surge apenas quando há excesso de poder, infração à lei ou descumprimento de normas contratuais. Essa previsão tem o objetivo de evitar que o simples inadimplemento de obrigações fiscais seja suficiente para justificar a responsabilização pessoal. Entretanto, a prática revela que, em muitos casos, o fisco amplia o alcance da norma, atribuindo responsabilidade a gestores apenas pela posição que ocupam.
Critérios legais para a responsabilização dos administradores
A responsabilização tributária deve ser pautada por provas concretas de conduta dolosa ou fraudulenta. O artigo 135 do CTN exige demonstração de que o administrador agiu com intenção deliberada de prejudicar a arrecadação ou de burlar obrigações legais. Leonardo Manzan explica que essa exigência reforça o princípio da pessoalidade, impedindo que o ônus fiscal seja transferido de forma automática.

Em diversas decisões recentes, os tribunais têm reconhecido a necessidade de observância rigorosa desses requisitos. O simples fato de um tributo não ter sido pago não configura, por si só, ato ilícito. Essa distinção é fundamental para garantir segurança jurídica e evitar perseguições indevidas a gestores que atuam de boa-fé.
A importância do compliance tributário na prevenção de riscos
Leonardo Manzan nota que o fortalecimento das práticas de compliance é uma das principais estratégias para mitigar riscos de responsabilização. Políticas de governança tributária bem estruturadas permitem identificar falhas operacionais, corrigir inconsistências e assegurar o cumprimento das obrigações acessórias. Além disso, servem como prova de diligência e transparência, elementos cada vez mais valorizados pelos órgãos fiscalizadores.
O investimento em auditorias internas e consultorias especializadas não apenas reduz a probabilidade de autuações, mas também demonstra comprometimento ético da administração. Essa postura preventiva contribui para preservar a reputação institucional e reforçar a confiança de investidores e parceiros comerciais.
O papel do Poder Judiciário e os limites da atuação fiscal
De acordo com Leonardo Manzan, o Poder Judiciário tem papel decisivo na delimitação dos limites da atuação fiscal. As cortes superiores vêm consolidando entendimento de que a responsabilidade pessoal dos administradores não pode ser presumida, devendo sempre estar amparada em provas objetivas de infração à lei. Essa postura é essencial para garantir a aplicação correta do artigo 135 do CTN e evitar o uso abusivo de execuções fiscais.
Aponta-se que o equilíbrio entre a arrecadação e a proteção dos direitos individuais é um dos maiores desafios do sistema tributário. A atuação do fisco deve se pautar por critérios técnicos e legais, respeitando os princípios constitucionais da legalidade e da razoabilidade.
Responsabilidade e segurança jurídica no ambiente empresarial
Leonardo Manzan sugere que o fortalecimento da segurança jurídica é condição indispensável para o crescimento econômico e para a atração de investimentos. Administradores que atuam de forma diligente e transparente não devem ser penalizados por falhas estruturais ou pela complexidade do sistema tributário.
Assim, o futuro da responsabilidade tributária no Brasil dependerá da consolidação de uma cultura jurídica equilibrada, que reconheça tanto a importância do combate à fraude quanto a necessidade de proteger a boa gestão. A clareza dos critérios legais e a previsibilidade das decisões judiciais serão fundamentais para garantir justiça fiscal e promover um ambiente empresarial mais estável e confiável.
Autor: Nikolay Sokolov